
Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888, no dia de Santo António de Lisboa, cujo nome de batismo era Fernando, sendo esta a origem de seu nome. Seu pai, o funcionário público Joaquim de Seabra Pessoa, faleceu quando Fernando tinha 5 anos. Seu irmão Jorge morreria no início de 1894, antes do primeiro aniversário.
Tendo sua mãe, Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, se casado com o comandante João Miguel Rosa, a família se mudou em 1896 para Durban, África do Sul, onde Fernando é educado na literatura inglesa e demonstra especial habilidade na escrita em prosa e em verso.
Sua obra poética é conhecida por seus numerosos pseudônimos, heterônimos e semi-heterônimos. Em um levantamento de 1966, Lopez elencou 18 nomes. Ao longo das décadas, esta contagem se ampliou para 21, 72, 83, chegando a 123 nomes segundo os amplos critérios de Cavalcanti Filho.
Dentre todos os nomes, diferencia-se o trabalho de Fernando Pessoa assinado com seu próprio nome como “ortônimo”, uma obra profundamente influenciada por doutrinas religiosas e pelas sociedades secretas. Em 1916, Fernando traduziu A Voz do Silêncio, de Helena Petrovna Blavatsky. Pouco depois, traduziu o poema Hino a Pã, do ocultista inglês Aleister Crowley.
Lendo uma publicação astrológica de Crowley, encontrou alguns erros em um horóscopo e escreveu-lhe para o corrigir. Crowley, impressionado com o conhecimento do poeta e interessado em viajar, foi a Portugal conhecê-lo, junto com a maga alemã Hanni Larissa Jaeger. Nesta ocasião, Crowley simulou seu suicídio na Boca do Inferno, atraindo várias polícias europeias e a atenção da imprensa, tudo em conluio com Pessoa.
Fernando tinha o hábito de fazer consultas astrológicas para si mesmo, tendo traçado mais de mil horóscopos, incluindo os mapas natais de seus heterônimos principais – Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Em um texto de 1917, Fernando Pessoa apresenta sua visão sobre o neopaganismo:
Como [os neoplatónicos da Alexandria] creio, e absolutamente creio, nos Deuses, na sua agência e na sua existência real e materialmente superior. Como eles creio nos semi-deuses, os homens (…) porque, como disse Píndaro, «a raça dos deuses e dos homens é uma só». Como eles creio que acima de tudo, pessoa impassível, causa imóvel e convicta [?], paira o Destino, superior ao bem e ao mal, estranho à Beleza e à Fealdade, além da Verdade e da Mentira. Mas não creio que entre o Destino e os Deuses haja só o oceano turvo […] o céu mudo da Noite eterna. Creio, como os neoplatónicos, no Intermediário Intelectual, Logos na linguagem dos filósofos, Cristo (depois) na mitologia cristã.
Seu interesse pela Maçonaria e pela Ordem Rosa-Cruz o levou a defender publicamente estas sociedades na edição de 4 de fevereiro de 1935 d’O Diário de Lisboa contra ataques da ditadura do Estado Novo. Diversos de seus poemas trazem referências a seus estudos esotéricos:
Que símbolo divino / Traz o dia já visto? / Na Cruz, que é o Destino, / A Rosa, que é o Cristo – O Encoberto
Por fim, na funda caverna / Os Deuses despem-te mais: / Teu corpo cessa, alma externa, / Mas vês que são teus iguais – Iniciação
Em sua Nota Biográfica, de 30 de março de 1935, Fernando Pessoa declara:
Posição religiosa: Cristão gnóstico, e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais diante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria.
Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.
Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, grão-mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos—a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania.
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